segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sangue e tequila

Uma manhã em forma de ressaca. O cenário era a calçada da rua mais movimentada do bairro, agora tão melancólica, diferentemente da bebedeira travestida de felicidade da noite anterior. Dois personagens de um enredo que poderia ser romântico ou trágico (dependendo do humor dos mesmos) ainda discutiam a relação na frente do bar preferido. Palavrões e promessas gritadas, um espetáculo digno dos que amam e não enxergam mais nada além do amor prestes a se tornar perdido. Ela disse adeus, mas deixara de consolo uma carta cujo fim seria o fundo do colchão antigo. Dizia ela:
'Sua estupidez foi mais marcante do que o amor. O casaco de couro hoje exala aroma de sangue com tequila. Uma marca nossa se chama solidão, mesmo em meio ao mundo. Na rua, todas as pessoas são iguais, todos possuem a mesma postura, aquele mesmo ar esnobe de quem pode tudo e sofre calado por não acreditar no que dita (ou diz acreditar). Oferecemos aos Deuses um pouco mais do que saliva e esperma, mas quando te ponho ao encontro de nosso Destino, você foge levando mais de mim do que eu imaginei um dia. Tentei permanecer ao seu lado, mas foi seu orgulho que me afastou."

Palavras nem sempre são o bastante para se manter o que um dia prometeu durar para sempre. Ele deu meia volta, e acabou por ficar lá mesmo, na calçada, enquanto ela se ocupou na função de não aparecer mais naquela rua. De não aparecer mais na vida dele. O casaco foi esquecido no bar, que ele nunca mais entrou, por lembrar tanto o dia em que a conheceu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
Sobe e desce, oscilação de Gêmeos com ascendente em Gêmeos.

Arquivo /aultimadobar