segunda-feira, 1 de novembro de 2010

dose dupla

O amor é um golpe bem dado que às vezes erra feio seu alvo. Denise ficava, namorava e se envolvia com garotos de todo tipo desde seus 13 anos. Pela vida amorosa dela se passaram caras galinhas, certinhos, nerds, abobalhados e no pior dos casos, um vagabundo que cheirava thinner com a meia da sorte.
Até se apaixonou por eles, chorou por motivos fulos e pensou em se casar com o que durou mais tempo. Mas sentia que algo faltava. Algo sempre faltava.

Talvez tivesse alguma coisa estranha com ela, pois de todos seus romances, nunca nenhum foi bom o suficiente para fazê-la feliz do início ao fim. Era como se todos já possuíssem uma data de validade vencida antes do prazo. Denise se achava a criatura mais normal do mundo, confusa e indecisa assim como todas as outras garotas de 20 anos, até conhecer Aline  na faculdade. Faziam o mesmo curso. Aline era o melhor exemplo do estilo hiponga moderno. Cabelo na cintura, pouca maquiagem, sandália rasteira, olhar de menina e uma beleza inconfundível. Enquanto todas as outras garotas da faculdade pareciam mais competir entre si num concurso de moda imaginário do que necessariamente estudar, Aline fazia a diferença. As duas simpatizaram uma com a outra de primeira.

Não demorou para que Denise, envolvida na nova amizade que surgia com a doce hiponga, passasse a descobrir em si mesma uma novidade pela qual nunca havia se perguntado antes. Começaram a sair juntas, estudar juntas no tempo livre, tomar café na livraria e arriscar tardes de violão e MPB na casa uma da outra. Denise ficou diferente. Estava mais feliz, não se pegava perguntando a si mesma qual a razão de sua carência. Não sentia mais crises de solidão, nem vontade de sair pra caçar na balada, conhecer gatinhos ou derivados. Seu tempo, involuntariamente, passou a girar em torno de Aline. Quando saiam, não ficavam com ninguém. Só se olhavam, sorriam, bebiam, e a noite sempre terminava em um abraço apertado. Logo Denise descobriu o pequeno detalhe de que estava sentindo ciúmes da amiga. Logo Denise se flagrou pensando na amiga todas as noites antes de dormir. Logo Denise percebeu que só ia deitar após a ligação de "Boa Noite" com a amiga. Logo Denise parou de negar a si mesma o que já era óbvio demais.

As coisas passaram a desencadear mais rápido do que o imaginado. Em julho, noite de seu aniversário, comemorado em um pub no centro, Denise bebeu mais do que o planejado. Usava um vestido tubinho preto e uma maquiagem que borrou após as primeiras doses de tequila. Não tirava os olhos de Aline, e não conseguia disfarçar, ela estava deslumbrante com a saia cigana e a blusa tomara que caia azul bebê. Após a virada coletiva de copos, saiu da linha e se aproximou mais de si mesma do que pensou que fosse capaz.
Olhou para a amiga e se imaginou aos beijos com ela. Não se contentava em apenas beijos, sua vontade era de morder cada pedacinho dela. Esse súbito desejo, beirando a necessidade, a fez se aproximar sem pedir licença, e em questão de segundos, tascou um longo e esperado beijo em Aline. O resto da turma ficou sem reação, tudo aquilo depois de um humilde 'Parabéns pra você' era emoção demais para um grupo de estudantes de Engenharia.

Aline retribuiu o beijo com toda sua força. Era como se ambas estivessem esperando por aquele momento desde o dia em que se conheceram. Após o ato, se entreolharam com os rostos colados, um sorriso de felicidade mútuo. Pediram dose dupla de tequila. Ali começara uma história sem fim.

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